Uma “boa” morte?
Para falarmos de eutanásia, precisamos entender o seu significado. A princípio, o significado do termo é oriundo do grego “eu”, que significa “boa”, e “thanatos”, que significa “morte”, ou seja, uma “morte boa”, sem dores nem angústia. Contudo, atualmente, o termo eutanásia já não é mais entendido nesse sentido, mas como “a supressão indolor da vida voluntariamente provocada de quem sofre ou poderia vir a sofrer de modo insuportável” (apud PESSINI; BARCHIFONTAINE 1996b, p. 355). É uma forma que a medicina encontrou de atenuar as dores da agonia.
O professor padre Mário Marcelo Coelho (2007, p. 171) explica que a eutanásia também é entendida como uma ação ou omissão a fim de eliminar toda a dor. Por isso, consiste em todo o tipo de terapia ou atuação que visa, objetiva ou intencionalmente, direta ou indiretamente, a antecipação da morte (pode ser por ação ou omissão).
Existem algumas motivações, assim como algumas razões morais, para que possamos refletir e perceber uma cultura de morte que esses métodos trazem para a nossa sociedade. As motivações para a utilização da eutanásia podem ser: para evitar dores e grandes incômodos ao paciente; para pôr fim à vida de feridos em guerras; para eliminar anciãos “inúteis” ou pacientes terminais; e por decisão do próprio paciente. As razões pelas quais podemos fazer uma avaliação moral podem ser: a inviolabilidade absoluta da vida humana; a consideração utilitarista da vida humana; o perigo da arbitrariedade, ou seja, o uso ideológico e indiscriminado, que pode ser feito pelas autoridades ou profissionais de saúde; e, criar-se uma mentalidade favorável à cultura de morte (COELHO, 2007).
O ensinamento da Santa Mãe Igreja
O Catecismo da Igreja Católica, preocupado com essa cultura de morte que cada vez mais toma conta do nosso cotidiano, dá-nos importantíssimos ensinamentos e orientações de como a sociedade e cada cristão deve agir: “Aqueles cuja vida está diminuída ou enfraquecida necessitam de um respeito especial. As pessoas doentes ou deficientes devem ser amparadas para levar uma vida tão normal quanto possível” (§2276).
Continua o Catecismo: “Sejam quais forem os motivos e os meios, a eutanásia direta consiste em pôr fim à vida de pessoas deficientes, doentes ou moribundas. É moralmente inadmissível” (§2277). Qualquer que seja a intenção, quando esta gera a morte, constitui um assassinato, contrário à dignidade da pessoa humana e assim deve ser condenado e excluído. O texto bíblico é esclarecedor para cada um de nós, quando este nos manda escolher pela vida: “Eis que hoje estou colocando diante de ti a vida e a felicidade, a morte e a infelicidade. […] Hoje, tomo o céu e a terra como testemunhas contra vós: eu te propus a vida ou a morte, a bênção ou a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e a tua descendência” (Dt 30,15.19).
Por fim, quero terminar essa reflexão sobre a eutanásia, uma mentira sobre a “boa” morte, com mais um parágrafo do Catecismo: “Mesmo quando a morte é considerada iminente, os cuidados comumente devidos a uma pessoa doente não podem ser legitimamente interrompidos. O emprego de analgésicos para aliviar os sofrimentos do moribundo, ainda que com o risco de abreviar seus dias, pode ser moralmente conforme à dignidade humana se a morte não é desejada, nem como fim nem como meio, mas somente prevista e tolerada como inevitável” (§2279).
Com isso, percebemos que a Igreja sempre opta pela vida. Em hipótese alguma a Igreja irá escolher pela morte, sendo assim, cada cristão, a exemplo da Igreja e da doutrina da qual professa, deve fazer o mesmo e escolher a todo custo pela vida, dom dado por Deus e interrompido somente com a Sua permissão.
Fábio Nunes
Seminarista da Canção Nova
Fontes:
BÍBLIA. Português. Tradução da Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. 2206p.
CATECISMO da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2000.
COELHO, Mário. O que a Igreja ensina sobre. São Paulo: Canção Nova, 2007.
PESSINI, Léo; BARCHIFONTAINE, Christian de Paul de. Problemas atuais de bioética. 3. ed. São Paulo: Loyola, 1996b.
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