CONVERSÃO

O caminho da Misericórdia na vida de Santa Maria Madalena

Gostaria de começar este texto a respeito de Santa Maria Madalena com um testemunho pessoal e atualizando o contexto no qual eu estou inserido como padre da Comunidade Canção Nova em missão na diocese de Toulon na França.

Foto ilustrativa: Santa Maria Madalena

No início do ano de 2017, ao chegar na diocese de Toulon, descobri que, segundo uma antiga tradição, Maria Madalena, ao fugir da perseguição que se iniciou após a morte de Jesus, veio se refugiar e habitar em uma gruta que está localizada dentro do território diocesano. Esta gruta, que hoje possui uma capela em um lugar dedicado a mães que se arrependeram da prática do aborto, recebe milhares de visitantes todos os anos. Posso dizer que todas as vezes que vou a esta gruta eu toco no amor misericordioso de Deus que transformou a vida desta mulher e que hoje é caminho de esperança para muitos, afirmo isto independente de dúvidas de alguns com relação à veracidade do fato de Maria Madalena ter passado os últimos dias de sua vida no Sul da França.

Maria Madalena é uma das discípulas de Jesus que ganha uma atenção particular dos Evangelistas durante a Páscoa de Nosso Senhor. Ela acompanha o processo da paixão, ela está aos pés da cruz na hora da morte de seu Senhor e ela é a primeira a ir ao sepulcro de Jesus no domingo da ressurreição, mas de forma especial foi a ela que Nosso Senhor ressuscitado quis aparecer e confiar a missão de proclamar a sua ressurreição aos apóstolos. Devido a esta graça, ela é reconhecida como a apóstola dos apóstolos.

O início do caminho da misericórdia que fez Maria Madalena com Jesus é geralmente ligado a outras personagens bíblicas que caíram no pecado ou tinham uma vida de pecadora, e que após o encontro com Jesus libertou-se da vida de pecado e viveu a vida nova que só Cristo pode dar. Para muitos autores bíblicos, Maria Madalena é a representação do ser humano pecador que encontra a redenção no amor misericordioso de Deus.

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Deixando de lado todas as teorias que surgiram sobre a relação de Maria Madalena e Jesus (ela não é esposa de Jesus, ao contrário do que diz o livro de Dan Brown, que se baseia em um escrito apócrifo gnóstico). Maria Madalena fazia parte das mulheres da Galileia que seguiam Jesus e O ajudavam financeiramente. Este grupo de mulheres se tornaram discípulas após uma experiência com Jesus. Alguns autores bíblicos, ao se basearem no Evangelho de São Marcos (Mc 16,9), acreditam que Maria Madalena tenha recebido uma cura de Jesus. A liberação dos sete demônios não significa necessariamente que ela tinha uma vida de pecadora, visto que as enfermidades no tempo de Jesus podiam estar ligadas à ação do demônio. O “sobrenome” de Maria faz referência a sua cidade de origem: Magdala ou Magadã segundo Mt 15,39.

Ao longo da história do cristianismo, Maria Madalena foi, em muitos momentos, identificada como sendo Maria irmã de Marta ou ainda com a pecadora anônima que seca os pés de Jesus após lavá-los com as próprias lágrimas. Uma terceira mulher que encontramos no capítulo 8 de São João (a pecadora adúltera que seria apedrejada) também já foi identificada como sendo Maria Madalena. A verdade é que as três mulheres são pessoas diferentes, sendo pouco provável que uma delas seja Maria Madalena ou ainda menos que as três sejam a mesma pessoa.

Maria Madalena sempre será vista como a discípula que experimentou a misericórdia e o perdão de Deus. Por isso ela sempre será o arquétipo da pecadora que se arrepende e que recebe o perdão, ou seja, ela representa cada um dos filhos de Deus que são capazes de se arrependerem, pedirem perdão pelas faltas cometidas e experimentarem a misericórdia e o amor de Deus. É este amor que Maria Madalena recebeu, um amor que tão pleno que uma vez experimentado não O abandonou mais, nem mesmo na hora mais dolorosa.

O Evangelista São João (Jo 20,1-18) narra com detalhes a aparição de Jesus a Maria Madalena na manhã da ressurreição. Gosto muito desta passagem do Evangelho, pois mostra o tamanho do amor de Maria Madalena por Jesus. Maria Madalena não espera o dia amanhecer para ir ao sepulcro, ela se preocupa com o desaparecimento do corpo de Jesus, ela chora o fato de não poder estar com seu Senhor, ela diz que vai sozinha recuperar o corpo, não importa onde este esteja, ela reconhece Jesus quando este a chama pelo nome.

Na liturgia do dia em que celebramos a festa de Maria Madalena, a primeira leitura é do livro do Cântico dos Cânticos. A passagem descreve a amada (noiva) que procura o amado. A noiva procura na casa, percorre a cidade, pergunta aos guardas se o viram e, após isto, ela o encontra e declara: “Encontrei, afinal, o amado de minha alma. (Segurei-o e não o soltarei)”. Maria Madalena é esta apaixonada por Jesus que chora sua perda, que questiona os anjos e que, após encontrar-se com Jesus, abraça-O e não deseja mais soltá-Lo.

Nosso caminho de misericórdia pode ter começado de forma diferente, mas todos, de uma forma ou de outra, fomos alcançados pela misericórdia de Deus. Que possamos, a exemplo de Maria Madalena, nunca deixar de procurar o Amor que nos amou por primeiro (1 Jo 4,10 ) , percorrer o caminho de nossa vida, tendo Ele como referência para um dia estarmos na eterna núpcias do cordeiro.

Que pela intercessão de Santa Maria Madalena, Deus o abençoe.

 

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