Não existe ninguém em toda a face da Terra que mereça ser ignorado. Esta é uma afirmação repleta de espírito cristão, uma vez que ela poderia ser traduzida por esta outra afirmação: todo ser humano possui valor. Mesmo que as atitudes deste ser humano sejam reprovadas do ponto de vista legal ou moral, e ela até mereça responder pelos seus possíveis atos transgressores, cada pessoa é, em si mesma, importante.
Ela é importante porque sua existência passou pelo querer de Deus. Se Deus não a quisesse, ela jamais teria existido. Além disso, o próprio Deus Todo-poderoso, aquele que criou o céu e a terra, fez-se homem e morreu numa cruz por cada pessoa que existiu antes da sua encarnação e todos os que vieram (ou ainda virão) após a sua passagem por este mundo.
É justamente por isso que podemos afirmar com todas as letras que não existe nenhum ser humano, neste mundo, que não mereça ser tratado com misericórdia. Contudo, nós precisamos reconhecer que somos capazes de exaltar certas pessoas e ignorar outras. É claro que podemos ter mais afinidade com um e menos afinidade com outro; podemos ter amizade com certo grupo de pessoas e não ter proximidade com outro grupo. Isso é normal e humano.
Existe, porém, um mandamento de Deus que sobrepõe todas estas questões menores de ordem particular ou de preferências pessoais. Este mandamento nos pede para amarmos o próximo como amamos a Deus. Isso quer dizer que gostemos ou não de alguém, aprovemos ou não seu comportamento, tendo ou não tendo amizade com o outro, para além de todos estes aspectos, devemos amar. Em outras palavras, devemos amar quem nos ama, mas devemos amar também quem nos odeia. É exigente, mas é isso que o Senhor nos ensina.
Certa vez, o starets (monge ancião dos mosteiros ordodoxos) Silouane o Athonita ensinou que a atitude ou o comportamento de um homem para com seu próximo indica o grau de graça que possui. Ou seja, aquele que consegue perceber a presença de Deus em seu irmão, significa que ele próprio possui nele uma graça extraordinária do Espírito Santo. Por outro lado, aquele que rejeita o seu irmão também está possuído por um espírito, não o Espírito de Deus, mas um espírito perverso.
Este ensinamento de São Silouane o Athonita deve nos fazer refletir: “Que tipo de espírito eu estou alimentando dentro de mim?”. Não devemos refletir sobre isso para nos tornarmos tristes ou oprimidos; pelo contrário, refletimos sobre isso para nos alegrarmos ao reconhecermos que estamos alimentando o Espírito de Deus em nós ou para mudarmos o nosso comportamento caso reconheçamos que o espírito perverso tem sido alimentado por nós.
Em suma, todos nós, enquanto cristãos, precisamos nutrir para com o próximo um espírito de respeito. Jamais devemos pensar que o outro já tenha perdido a misericórdia de Deus. Não cabe a nós este julgamento temerário. E, caso percebamos que já caímos em julgamentos como este ou em condenações interiores, é hora de parar, reconhecer o erro e fazer o caminho de conversão.
Novamente é preciso afirmar que ninguém é obrigado a ser amigo de alguém que não queira, ou, quem sabe, gostar de todos obrigatoriamente, porém, somos chamados a amar a cada pessoa que passa por nossa vida.
Deus abençoe você e até a próxima!
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Colocar-se a serviço dos outros, por amor!
Suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo
Deus não conhece a “cultura do descarte”
Sempre e em tudo um olhar de esperança
Não levantar falso testemunho
Gleidson Carvalho
@cngleidson
Seminarista Canção Nova