Neste artigo, iremos dar continuidade ao artigo anterior, onde foi tratado das três primeiras doenças espirituais. Agora, apresentaremos as outras cinco. Como foi percebido no primeiro artigo, as três doenças foram: gastrimargía, porneia e a filargíria. Neste veremos a tristeza, a ira, a acídia, vaidade e o orgulho ou soberba.
A Tristeza
A primeira delas é a tristeza. No paraíso, o homem não estava submetido à morte nem à tristeza ou sofrimentos, contudo, como vimos no artigo anterior, o pecado original fez com que o homem sofresse as intempéries da natureza humana. Tomás de Aquino vai dizer que a tristeza é uma espécie de dor. Porém, é uma dor espiritual (Suma Teológica, I-II, q. 35, a. 2). O apóstolo Paulo vai ainda afirmar que sentiu dor e tristeza em seu coração, “tenho grande tristeza e dor incessante em meu coração” (Rm 8,12). A tristeza pode ser entendida como essa dor de natureza profunda, não no corpo, mas no espírito.
Quando o padre Paulo Ricardo vai falar da tristeza, ele chama a atenção também para o aspecto fisiológico: “o cérebro não esteja produzindo serotonina como deveria, por exemplo –, uma pessoa caia em tristeza, sem que sequer se dê conta de que está triste. É quando ela toma consciência de seu estado e age deliberadamente para alimentá-lo, que acontece o pecado”. Contra essa doença São Paulo ainda vem nos alertar: “Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos!”. A alegria do cristão deve estar no Senhor.
A Ira
A ira por si só não é nem mal nem boa, porém, um aspecto da ira é considerado ruim. Caracteriza-se mal quando a animalidade controla a alma e a deixa cega, transformando o homem que é um animal racional em simplesmente um animal. Padre Paulo vai dizer que: “A ira também tem algumas características que, num primeiro momento, parecem contraditórias: é impetuosa, ou seja, acontece de forma repentina, contudo, quando o ímpeto arrefece, permanece a memória do mal; e é radical, ou seja, não é fácil livrar-se dessa doença”.
A Acídia
Existe também a acídia, ou como é mais conhecida, a preguiça. O pior aspecto da acídia é a preguiça de ser santo. Tomás de Aquino vai dizer que a acídia é uma tristeza espiritual. Nota-se que, é um pecado contra a caridade. A acídia é também uma espécie de enfado no agir, resultando da falta de coragem de amar. Existem ainda as filhas da acídia, definidas por Gregório Magno, são elas: a malícia, o rancor, a pusilanimidade, o desespero, o torpor em relação aos preceitos e a divagação da mente por coisas proibidas.
“Alegrai-vos sempre no Senhor! Repito: alegrai-vos!”
A Vaidade
A vaidade é outra doença. O livro do Eclesiastes inicia falando que tudo é vaidade (cf. Ecl 1,2). Essa vaidade pode ser entendida também como vanglória, e é assim que Tomás de Aquino vai falar sobre essa doença quando afirma que o maior problema é no desejo pela vanglória, que acontece por três razões: a de procurar glória em algo que não é digna desta busca, por ser frágil e caduca; procurar a glória de quem possui falta de conhecimento no assunto abordado; e, por fim, quando não se orienta a busca de glória para o verdadeiro fim, por assim, a honra de Deus ou a salvação do próximo. O padre Paulo Ricardo esclarece que “há, portanto, uma glória justa, buscada pelos santos, e uma glória vazia, que é capaz de ‘sugar’, por assim dizer, todos os bens interiores de uma alma, enquanto torna o homem presunçoso e confiante demais em si mesmo”.
O Orgulho
Por fim, a última doença é o orgulho ou a soberba. São Gregório Magno afirma que a soberba é a rainha dos vícios, ela está no início dos pecados. É Tomás de Aquino explica o porquê da soberba ser a rainha dos vícios: primeiro, porque é um apetite desordenado da própria excelência, depois, porque existe um desprezo por Deus e, por último, porque há uma inclinação para esse desprezo. Esse mesmo santo define quatro tipos de soberba: as pessoas que estimam possuir o bem, graças a eles próprios; as que, mesmo acreditando que o bem lhes foi dado do alto, acham que foi por seus méritos que o receberam; as que se gabam de possuir o que não possuem; e as que desprezando os demais, apreciam particularmente ostentar o que possuem.
Com isso, terminando de elencar as oito doenças espirituais, mesmo que de forma sucinta, deixo a dica para você, querido leitor, procure aprofundar no conhecimento dessas doenças que não deixam de serem pecados e, muito mais do que conhecer, busquem aprender como lutar contras elas e, desse modo, crescer na vida da perfeição cristã.
Boa leitura e até o próximo artigo!
Fábio Nunes
Seminarista da Canção Nova
Fontes:
AQUINO, Tomás de. Suma Teológica. Trad. Alexandre Correia. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2016. v. 3, I-II.
______. Suma Teológica. Trad. Alexandre Correia. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2016. v. 4, II-II.
AZEVEDO JR, P. R. O pecado da tristeza. Padre Paulo Ricardo, 2020. Disponível em: <https://padrepauloricardo.org/aulas/o-pecado-da-tristeza>. Acesso em: 26 de maio de 2020.
BÍBLIA. Português. Tradução da Jerusalém. São Paulo: Paulus, 2002. 2206p.