Quinta-feira santa | Cristo abandonado no Getsêmani

Semana Santa não é algo que eu assisto, é algo que eu vivo em mim mesmo. É uma realidade que me molda. Como cristão eu devo vivê-la como o Cristo. Apreendendo o sentido de toda a grandeza do Evento. Na Semana Santa, sobretudo nos três dias, deve acontecer a abertura para que Cristo assuma nossos pecados e para que assumamos a obediência filial d’Ele. Só assim seremos transformados. É um assumir-se mútuo. Em Jesus eu participo da vida de Deus e Deus participa da minha.

Nós também experimentamos em nossa vida as faces destes três lugares: Getsêmani na quinta; Calvário na sexta e Sepulcro no sábado.

 

QUINTA-FEIRA
Getsêmani: O abandono (Mt 26,36-56) /tristeza e angústia

No Evangelho de Mateus todos os discípulos o abandonam (cf. v.56), mas o pior abandono não é este. O pior abandono é o sentir-se abandonado pelo Pai. A dor de uma criança abandonada pelo pai é a dor da distância. Este abandono é consequência da escolha por cada homem. O abandono sentido por Jesus é a dor da proximidade do pecado de todos. O pecado provoca o distanciamento de Deus. Pelo pecado o homem se distancia de Deus. Jesus no Getsêmani sentiu essa dor.

Cristo assume o meu pecado

Encarnar-se pressupõe, por parte de Deus, a vontade de se submeter ao livre arbítrio humano que gera as leis da história e de aceitar a decisão humana pela condenação à morte do seu Filho. “Aquele que não cometeu pecado Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornemos justiça de Deus” (2Cor 5,21). Deus tornou Cristo solidário com os homens pecadores a fim de tornar os homens solidários com a obediência e a justiça de Cristo. O que significa isso? O que significa solidariedade? Em palavras simples significa que Cristo assume cada ser humano que com seu pecado abandona Deus para que estes assumam a obediência e justiça d’Ele para se tornarem assim justificados, para se tornarem filhos. É solidariedade no pecado, por parte de Cristo; e solidariedade na graça por parte dos homens. Ou seja, Cristo sofre com os homens e os homens se elevam com o Cristo. Isso é solidariedade, um participa da vida do outro. Mas a solidariedade profunda é a de Jesus por nós. Ser cristão é isso: Cristo assume meu pecado, esse é o dom da graça; e eu assumo a obediência filial de Cristo, essa é a tarefa da minha liberdade.

quinta-feira santa

Basílica da Agonia, na Terra Santa / cancaonova.com

 

Cristo em mim

Ninguém é cristão sozinho. Deve haver esta participação da vida de Cristo na minha e da minha na d’Ele. Ele me assume e eu O assumo. Daí compreende-se por que uma espiritualidade dos três dias. Não significa refletir sobre os dias apenas. Mas sobre o Mistério de Cristo em cada um dos dias e de como eu devo vivê-lo.

Quanto mais Deus se aproxima do ser humano vivendo em sua natureza suas dores, mais reconhecemos quão elevado Ele é sobre nós. E à medida que se nos revela vamos compreendendo o incompreensível por força da revelação (Mística). No fato de uma pessoa da Trindade assumir a natureza humana reside a realização e a revelação de algo compreensível ao humano (Ascética).

Leia mais:

:: Quinta-feira santa: Jesus nos convida a estar com Ele
:: Quinta-feira santa
:: A espiritualidade da Quinta-feira santa

Pai, autor da Redenção

Na situação dramática da Última Ceia ao Getsêmani, o Pai, aparentemente espectador do drama, é de alguma forma também autor central da situação dramática do Filho que se submete às decisões do livre arbítrio humano: “amou tanto o mundo que lhe entregou seu filho unigênito” (Jo 3,16).

Diácono Edison de Oliveira
Comunidade Canção Nova

edisondeoliveira

Deixe seu comentários

Comentário