Adornada por Deus em tamanha graça desde toda a eternidade, Maria é esta Virgem, a Mulher prefigurada no livro do Gênesis (Cf Gn 3, 15)
Que ensinamento podemos colher do sim de Maria? Para melhor adentrarmos nesse tema, poderíamos voltar um pouquinho na história da salvação e na expectativa do povo de Israel quanto a vinda do Messias.
Segundo o Catecismo da Igreja Católica, Deus “manifestou -se a si mesmo, desde os primórdios, a nossos primeiros pais. Convidou-os a uma comunhão íntima consigo mesmo, revestindo -os de uma graça e de uma justiça resplandecentes” (CIC 54). E é lindo perceber que a Revelação não foi interrompida pelo pecado de nossos primeiros pais. Ao contrário, alentou-os a esperar, a confiar na Sua misericórdia “e velou permanentemente pelo gênero humano, a fim de dar a vida eterna a todos aqueles que, pela perseverança na prática do bem, procuram a salvação” (CIC 55). Apesar da desobediência, Deus preservou uma verdadeira amizade com o gênero humano, não os abandonou ao poder da morte, oferecendo muitas vezes aliança aos homens e mulheres.
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Na economia da Salvação, Deus faz aliança com Noé, elege Abraão para congregar a humanidade dispersa, fazendo dele o pai de uma multidão de nações (Gn 17,5). Este povo, originário de Abraão, será o depositário da promessa feita aos patriarcas, o povo da eleição. Depois dos patriarcais, Deus formou Israel como seu povo. Israel é o povo sacerdotal de Deus, o povo que traz o nome do Senhor (Dt 28,10). Deus também enviou os profetas e, por meio deles, formou seu povo na fé e na esperança da salvação e “na expectativa de uma Aliança nova e eterna destinada aos homens, e que será impressa nos corações” (CIC 64). Eles anunciam uma redenção radical da parte de Deus onde o povo será purificado de todas as suas infidelidades, e esta salvação incluirá todas as nações. Esta Aliança eterna se encontra na pessoa do Cristo Jesus – o Filho de Deus feito homem – Ele é o Mediador entre Deus e os homens.
Desde então, o povo de Israel aguardava ansiosamente a manifestação do Messias que viria resgata-los da opressão. Além do mais, eles tinham a consciência, através das Escrituras, de que o Messias deveria nascer de uma virgem: “Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que a jovem concederá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel” ( Is 7, 14).
Adornada por Deus em tamanha graça desde toda a eternidade, Maria é esta Virgem, a Mulher prefigurada no livro do Gênesis (Cf Gn 3, 15), que esmagaria a cabeça da serpente sob seus pés. Pode-se dizer que a “cabeça” da serpente corresponde à grande soberba do demônio, que o impede de servir ao Verbo de Deus encarnado no seio da Virgem Maria. Porém, São Paulo afirma aos Efésios (Ef 5, 23) que Cristo é a cabeça da Igreja, seu Corpo, do qual ele é o Salvador. Portanto, a Igreja deve se submeter a Cristo que tanto a amou. Contrariando a soberba do demônio com sua grande humildade, Maria é Mãe do Salvador, mas também é membro da Igreja. Maria é o primeiro e mais exemplar membro da Igreja. Ela é esse membro insigne da Igreja – corpo de Cristo – onde todos os outros membros podem se debruçar não só para a admirar mas também, para a imitar.
Ao falar sobre a Virgem Maria, o Papa Leão XIII (Carta Encíclica Magnae Dei Matris, 1892) aponta para sua vida humilde, naquela época, quase que esquecida aos olhos humanos: “Ela, descende, é verdade, da linhagem real de Davi; da riqueza e do esplendor dos seus antepassados não lhe resta mais nada; leva vida obscura em humilde cidade, e em casa ainda mais humilde; tanto mais satisfeita com sua solidão e com sua pobreza quanto pode, com coração mais livre, elevar-se a Deus, e unir -se totalmente ao sumo e desejadíssimo bem. Mas, o Senhor está com ela, cumula-a e a faz bem-aventurada em graça. E é justamente ela que o celeste mensageiro designa como a mulher da qual, por virtude do Espírito Santo, deverá vir entre nós, homens, o esperado salvador das gentes”. Segundo o Papa, Maria admira a mais sublime onipotência divina, exalta Sua infinita bondade e Misericórdia e, em contrapartida, se vê como uma criatura destituída de toda virtude.
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Quando o anjo Gabriel lhe anuncia que seria a mãe do Salvador, a Virgem Maria proclama seu “fiat”, consente com a vontade divina fazendo-se sua escrava: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça -se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,37).
Dessa forma, a Virgem Maria “atingirá tal altura e glória qual nenhum homem nem anjo poderá jamais atingir, porque ninguém poderá ser-lhe jamais comparado em virtude e em méritos” (Papa Leão XIII, 1892). Maria é, portanto, modelo de todas as virtudes. São grandes os ensinamentos, fruto do sim da Virgem Maria. Dela aprendemos a verdadeira humildade que esmaga não somente a soberba de Satanás, mas também a nossa. Quão soberbos somos quando pecamos, quando queremos ser deuses de nós mesmos. Quanta loucura a nossa, quando insistimos em seguir segundo nossos conceitos e nossa vida desordenada.
O sim da Virgem Maria nos ensina a crer na promessa de Deus, pois Ela foi a quem mais acreditou. Ela acolhe o anúncio do anjo e, ao mesmo tempo, a promessa. Em profunda obediência, submissão, humildade e despojamento de si, crê como lhe afirma o anjo: “ Nada é impossível para Deus” (LC 1,37). Em seu Fiat proclama: “Eu sou a serva do Senhor; faça -se em mim segundo a tua palavra (LC 1, 45). A partir de então, seu sim foi até às últimas consequências, até a sua última provação, quando seu filho morreu na cruz. Do seu sim, podemos aprender a fidelidade a Deus nos momentos de prova, de dor e sofrimento, pois ela também é a mulher das dores.
Peçamos sua intercessão:
“Mãe da humildade, Mãe da obediência, Mãe das dores, vem nos socorrer em todas as necessidades. Somos tão fracos, frágeis, imperfeitos. Ajuda-nos a vencer a soberba, a desobediência, a falta de fé. Ensina-nos a dizer sim a Deus, aos seus desígnios de amor. Somos teus filhos! Dá -nos a graça da fidelidade. Amém!”