Campanha da Fraternidade 2022 "Fala com sabedoria, ensina com amor"

Nesta Quaresma, a CNBB colocou a Campanha da Fraternidade com o tema “Fraternidade e Educação”, com o objetivo de fomentar a reflexão sobre a importante questão da educação, sobretudo das crianças e dos jovens. O lema da campanha é bíblico: “Fala com sabedoria, ensina com amor” (Pr 31, 26). É um assunto muito amplo; neste artigo, desejo abordar uma pequena parte dessa imensa matéria.

Educar é a arte mais bela e mais nobre de ser exercida, porque é a arte de formar a pessoa humana. Lapidar essa “pedra preciosa” é missão dos pais e educadores, para que amanhã esse diamante possa brilhar. Educar é algo parecido com o que fazia Michelangelo, que transformava uma pedra bruta numa imagem da Pietá, Moisés, Davi, com paciência, amor e carinho.

“É tempo de olhar em frente com coragem e esperança.” | Foto: CNBB

Coelho Neto dizia que “educar é colaborar com Deus”, e que “é na educação dos filhos que se revelam as virtudes dos pais”. Também ensinava que a educação não pode ser feita pelo medo, já que “a educação pelo medo deforma a alma”.

A educação não é só para as crianças e jovens; é para todos; é uma tarefa que nunca termina na vida. Alguém disse que “a vida é uma escola que nunca tem férias”. Cada encontro novo, cada conversa boa, cada aula, cada fato novo, cada livro, cada dor acrescenta algo em nossa educação. O povo se acostumou a dizer: “vivendo e aprendendo”.

Nos nossos dias, disse o Papa Francisco, “é tempo de olhar em frente com coragem e esperança. Que, para isso, nos sustente a convicção de que habita na educação a semente da esperança: uma esperança de paz e justiça; uma esperança de beleza, de bondade; uma esperança de harmonia social”. O Papa destacou a necessidade fundamental de uma educação que valorize o ser humano em sua integralidade, evitando a “cultura do descarte” – que coloca os mais vulneráveis à margem da sociedade”.

Deus quer o nosso desenvolvimento, do homem todo e de todos os homens. A pessoa humana tem três níveis excelentes: o biológico, o racional e o espiritual. O homem bem desenvolvido é aquele que respeita uma escala de valores: acima o espiritual, a comunhão com Deus e com os outros; o racional, em seguida, usando sua inteligência para conhecer e fazer o bem; e mais abaixo o físico, que deve ser bem cuidado para ser a boa sustentação dos níveis superiores. O homem de pé é aquele que prioriza o espírito sobre a matéria; se essa escala for invertida, a matéria esmaga o espírito e o homem agoniza; se arrasta pela vida, não cumpre o desejo de Deus para o qual foi criado.

Todos nós sabemos que a educação escolar no Brasil vai mal e deixa muito a desejar; muitas de nossas crianças e jovens saem da escola sem preparo para enfrentar o mercado de trabalho; não sabem ler direito e muito menos interpretar um texto, uma nota técnica e o manual de uma máquina; isso dificulta muito a vida desses jovens.

A nossa situação educacional é muito inferior à situação da maioria dos outros países, como mostram os dados publicados pela mídia. Há muito que se investir em educação no Brasil, sobretudo em professores bem formados. É fundamental uma escola que ensine as matérias fundamentais e que não desvie o estudo por meio de ideologias.

Por outro lado, a destruição de muitas famílias deixa muitos filhos carentes de uma boa educação humana e religiosa. Isso leva muitos jovens ao mundo das drogas, do crime e da violência, além disso, muitas vidas são desperdiçadas; muitos jovens terminam nas cadeias; uma tragédia humana. A Campanha da Fraternidade visa então estimular a reflexão sobre a importância da família, da escola, da sociedade e da Igreja, em relação ao papel educativo.

Especialmente nesses dois anos de pandemia, a educação foi fortemente abalada; as crianças e os jovens foram educados por meio da internet, sem o contato mais próximo com os colegas e professores. E isso, sem dúvida, atrasou o processo educativo deles. É preciso recuperar este tempo de atraso.

Campanha da Fraternidade

Penso que, nesta Campanha da Fraternidade, poderá ser muito valioso estudar o que Dom Bosco, pai e mestre da juventude, nos ensinava sobre a educação e a fraternidade: o amor aos jovens. Ele pedia aos pais que valorizassem os seus filhos, acreditassem neles, amassem e respeitassem os filhos. Quando respeitado e estimado, o jovem progride e amadurece. Elogie seu filho sempre que puder. Compreenda seu filho. Alegre-se com o seu filho. Aproxime-se de seu filho. Dom Bosco dizia que “tanto quanto nós, os jovens são atraídos por um sorriso; a alegria e o bom humor atraem os meninos como mel”.

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É preciso viver no meio deles, conhecer seus amigos, seus programas, participar amigavelmente de sua vida e ser coerente com eles. Na educação, prevenir é melhor do que castigar. O provérbio diz: “Educa a criança hoje para não ter que punir o adulto amanhã”. Mas os filhos devem ser corrigidos com sabedoria, sem violência e sem humilhação. O necessário castigo deve ser inteligente, apto e corrigir sem magoar. Uma criança e um jovem nunca devem ser corrigidos com raiva.

E Dom Bosco dizia: “Reze com seu filho”. Ele dizia que a boa educação sem Deus é impossível. O Catecismo nos lembra que os primeiros catequistas dos filhos são os pais, e isso falta muito hoje nas famílias. É no colo do pai e da mãe que a criança deve aprender a rezar, a conhecer os mandamentos da Lei de Deus e os princípios básicos da moral cristã: amar a Deus, ser humilde, desprendido das coisas, respeitar o próximo, honrar os pais, não fazer mal aos outros, não mentir, não desejar o que é dos outros, não roubar… É na família que se molda o caráter da criança e do jovem; é a escola das virtudes.

O Concílio Vaticano II declarou o seguinte:

“Porque deram vida aos filhos, contraem os pais o dever gravíssimo de educar a prole. Por isso, hão de considerar-se como seus primeiros e principais educadores. Essa tarefa educacional se revela de tanta importância, que onde quer que falhe dificilmente poderá ser suprida. É assim, dever dos pais criar um ambiente tal de família, animado pelo amor, pela dedicação a Deus e aos homens, que favoreça a completa educação pessoal e social dos filhos. A família é, pois, a primeira escola das virtudes sociais de que as sociedades têm necessidade” (GE, 3).

Educar é uma bela e longa tarefa que exige paciência. Um provérbio chinês diz: “Se os teus projetos são para um ano, semeia o grão. Se são para dez anos, planta uma árvore. Se são para cem anos, educa o povo”. O nosso país tem tudo que precisa de riquezas naturais, mas ainda falta muito para educar o seu povo.

É parte essencial da educação a formação religiosa. O documento de Santo Domingo (IV CELAM) diz:

“Eduquemos os cristãos para ver Deus em sua própria pessoa, na natureza, na história global, no trabalho, na cultura, em todo o secular, descobrindo a harmonia que, no plano de Deus, deve haver entre a ordem da criação e a ordem da redenção” (n. 156).

Fraternidade e Educação são duas prioridades para a sociedade, sem fraternidade, carinho, a educação não pode ser bem realizada, pois ela não é possível sem amor.

Felipe Aquino
Professor de física e matemática, autor de mais de 70 livros e apresentador dos programas “Escola da Fé” e “Pergunte e Responderemos” na TV Canção Nova e “No Coração da Igreja”, na Rádio Canção Nova. Em julho de 2012 recebeu o título de “Cavaleiro da Ordem de São Gregório Magno”, concedida pelo Papa às pessoas que se destacam, no seu trabalho, em prol da evangelização, em defesa da fé e o desenvolvimento da Igreja Católica.