AUXÍLIO

Como um diretor espiritual pode ajudar no discernimento da minha vocação?

É fato que um bom diretor espiritual é fundamental para o discernimento de uma vocação, mas para entendermos claramente a relação do diretor com este discernimento, é necessário, primeiramente, esclarecer o que vem a ser a direção espiritual, qual a sua importância e necessidade de modo geral, e o que se entende por vocação. 

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  1. A) A arte…: Essa expressão busca expressar o modo prático e concreto do diretor aplicar a cada alma, segundo a prudência sobrenatural, os princípios da teologia dogmática, moral e ascético-mística. 
  2. B) …De conduzir as almas…: A direção é dinâmica e orientadora. Aqui, o diretor  deve conduzir suavemente a alma, respeitando a sua liberdade, pelo caminho que leva até a união com Deus. Portanto, deve o diretor saber indicar os passos a serem dados nas diversas etapas da vida espiritual. 
  3. C) …Progressivamente…: O diretor deve conduzir a alma de modo progressivo, não atrasando, mas também sem pular etapas de maneira imprudente. Ele deve saber exigir o que a alma pode dar de si, de acordo com as graças concedidas por Deus. 
  4. D) …Desde o início da vida espiritual…: A direção deve começar assim que a alma se decide empreender uma vida de santidade. Este caminho será cheio de escolhas e dificuldades, de modo que ao diretor cabe o dever de auxiliar a alma a vencer esses obstáculos. 
  5. E) …Até os cumes da perfeição Cristã…: O diretor deve canalizar todas as energias de uma alma para a sua plena e perfeita união com Deus. Um diretor não pode contentar-se com a mediocridade, pois se ele não impulsiona uma alma para uma perfeição cada vez maior, causa grande dano a ela, como diz Santa Teresa Dávila2. 

Tendo clareza da definição do que é a direção espiritual, podemos, agora, compreender sua importância. 

Segundo a tradição cristã, a direção espiritual é moralmente necessária para alcançar a santidade. São Vicente Ferrer é categórico em dizer: “Jesus Cristo nunca concederá sua graça, sem a qual nada podemos fazer, a quem, tendo à sua disposição um homem capaz de instrui-lo e dirigi-lo, despreza essa ajuda persuadido de que se bastará a si mesmo e que encontrará por si tudo o que é útil para a sua Salvação”3. Desse modo, a necessidade da direção espiritual se comprova pelos seguintes pontos: 

1º Pela Autoridade das Sagradas Escrituras: Muitos textos da Sagrada Escritura insinuam essa necessidade, como por exemplo: “Se um cair, será apoiado pelo outro. Ai do que está sozinho: quando cair, não terá quem o ajude a levantar-se” (Ecl. 4,10). 

2º Pela Autoridade da Igreja: Essa sempre foi a fé da Igreja defendida pelos santos, e a esse respeito diz Leão XIII em carta ao Cardeal Gibbons: “Os que tentam santificar-se pela própria razão de estarem tentando seguir um caminho pouco explorado, estão mais expostos a se perder, e é por isso que necessitam ainda mais que os outros de um doutor e guia”4.

3º Pela Prática Universal da Igreja: Desde os tempos apostólicos, a direção espiritual é vivamente recomendada, ainda que apareçam santos que não tiveram diretores (o que mostra que ela não é absolutamente necessária, pois a graça de Deus, em caso de  impossibilidade de um diretor, supre essa ausência), mas a lei geral é de que ao lado das almas mais perfeitas há sempre um diretor sábio. 

4º Pela própria natureza da Igreja: Nada há de mais oposto ao espírito do Cristianismo do que buscar por si mesmo uma regra de vida. 

5º Pela própria psicologia humana: Ninguém é bom juiz de si mesmo, ainda que tente ser sincero ao máximo. 

Uma vez que vimos mais afundo o que é a direção espiritual e a sua necessidade, devemos, por fim, analisar o que é a vocação e assim ficará claro qual a importância de um diretor para ajudar no discernimento vocacional. 

Monsenhor Jonas Abib diz em seu livro ‘Vocação, um desafio de Amor’: “O Senhor tem uma vocação e uma missão para cada um de nós, assim como tinha uma vocação para os seus apóstolos”5. A palavra “vocação” vem da palavra latina Vocare, que significa chamar, convocar, escolher.  

Logo, Deus faz um chamado a cada um de nós. Mas para que Ele nos chama? Segundo a Constituição Dogmática Lumen Gentium, o nosso primeiro chamado (vocação) é à santidade. Para isso, Deus tem um caminho para que cada pessoa seja santa: no sacerdócio, na vida consagrada, nas novas comunidades ou movimentos, no matrimônio, no cuidado de educar os filhos, estudando, trabalhando numa empresa ou no comércio. A cada um, em seu estado de vida próprio, o Senhor chama à santidade. Sendo assim, poderíamos dizer então que Deus chama a todos à santidade, e para que se  chegue lá, Ele dá o caminho que cada pessoa deve percorrer. 
 
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Agora, fica claro como um diretor espiritual pode ajudar no discernimento da vocação. Cabe ao diretor ajudar a alma a ouvir o chamado de Deus a seu respeito: se é numa congregação religiosa, diocese ou no matrimônio. O diretor ajudará não só a ouvir  a voz de Deus que chama, mas também auxiliará a alma a responder esse chamado e assim conseguir responder Àquele que a chama. Através da direção, cada pessoa poderá encontrar qual é o caminho que a levará à santidade.  

Portanto, independentemente de onde você nasceu, da sua idade, do seu trabalho ou das suas ocupações, existe uma vocação, um chamado para você. Dentre tantos caminhos, há uma coisa comum a todos: todos eles levam ao amor. Por isso a vocação é um desafio de amor. Talvez você ainda não tenha um diretor espiritual, talvez você não saiba qual é a sua vocação ou até nunca tenha pensado a respeito, mas saiba que existe um chamado para você. Basta você buscar ouvir a voz d’Aquele que o chama. Ele chamou Mateus, João, Pedro, Tomé e pode estar chamando, hoje, você também. No caso de Pedro, Jesus pediu para ele deixar as redes e segui-Lo. E a você, o que Ele pode estar pedindo para deixar? Não tenha medo, vale a pena deixar tudo pelo Tudo. Aceite esse desafio de amor, procure um diretor espiritual e não tenha medo, pois aí você encontrará a sua felicidade perfeita.  

1 Antonio Royo Marin, Teologia da Perfeição Cristã. 
2 Livro da Vida, 5,3; 13,14. Etc.. 
3 São Vicente Ferrer, Tratado de la vida espiritual p. 43-44.  
4 Leão XIII, Carta ao Cardeal Gibbons, de 22 de janeiro de 1899.  
5 Monsenhor Jonas Abib. Vocação, um desafio de Amor.

 

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