OBRA DE MISERICÓRDIA

Dar o coração ao miserável

Talvez, ao ler o título deste artigo, a primeira coisa que vem à sua mente seja a importância e a necessidade das obras de caridade. Confesso que, inicialmente, foi o que pensei. Porém, sem retirar qualquer mérito e virtude que consistem essas obras ou o valor delas para os que são auxiliados, eu não quero escrever sobre estes que, comumente, são tidos como os miseráveis: pobres, doentes, discriminados. Quero, ao contrário, falar de nós: eu e você.

É fácil demais enxergarmos limites físicos e esquecer que também nós temos nossas enfermidades e pobrezas e que, antes de darmos um coração, é preciso que recebamos o maior deles: o de Cristo.

“Receba o Sagrado Coração, imite-O e dê ao outro o que lhe foi dado: o próprio Deus!” | Foto ilustrativa: Arquivo CN

Ser miserável diz de uma pobreza extrema. Não digo de não se ter bens, propriedades e pertences, mas de um abismo espiritual que acompanha todo homem desde o pecado original. Sim, existe em nós um vazio tão profundo, que se não fosse a bondade de Deus em nos conceder o Seu coração, não suportaríamos. É um espaço que só Ele é capaz de preencher.

Sabe quando vemos uma pessoa na rua com frio e pegamos um cobertor para socorrê-la em sua necessidade? Ou quando um bebê chora e sua mãe logo o amamenta? Esses são exemplos físicos. Realidades corporais que respondemos com bens temporais. No entanto, o ápice de nossas carências sensíveis nem pode ser comparado à ausência que sentimos de Deus. Sendo essa miséria tão grande em nós – imensurável à compreensão humana, é essencial que recebamos um bem que ocupe tal espaço.

:: Em ti Senhor, está a nossa confiança

A vinda do Cristo – seu nascimento, vida pública, paixão, morte e ressureição – é a explicitação do que significa “dar o coração ao miserável”. Encontramos no Diário de Santa Faustina os escritos que revelam a eterna perfeição de um coração na infinita imperfeição de outro. “Fostes levados pela misericórdia até o ponto de que Vós mesmo Vos dignastes descer até nós e nos levantar da nossa miséria.” (1745).

E por que o nosso abismo só por Ele poderia ser habitado? Continua o Diário: “É o excesso do Vosso amor, é o abismo da Vossa misericórdia.” (1745). Um imensidão de misérias, só é remida por uma imensidão de misericórdia. Só o Cristo é detentor de um coração sem fim, limites ou barreiras.

Cristo é Deus. O seu coração é, assim, divino. “Admirou-se o céu que Deus se tornou homem, que há na terra um coração digno do próprio Deus.” (1746). Olhar Jesus e tudo o que Ele é, foi, fez e viveu nos mostra o caminho e a direção a seguir quando pensamos em darmo-nos de coração aos que necessitam.

Acredito que muitas experiências visíveis nos revelam ao menos um pouco das invisíveis. O nascimento de Cristo, por exemplo: vida primeira no seio de uma família e pobreza numa gruta em Belém, sinal da nova vida que nascia aos homens e da grandeza espiritual de fazer-se pobre. A vida pública: curas, milagres e chamados, apontando a maior cura e o maior chamado que Ele realiza no âmbito espiritual – a conversão (cura da escravidão do pecado) e o convite a dar-se por inteiro ao Seu amor. Por fim, sua paixão, morte e ressureição: a manifestação aparente da salvação e da glória eterna que Ele deseja a cada um de nós.

Enfim, só Ele é a resposta. De tudo, para tudo. Quer dar-se a um miserável – próximo ou distante de você? Descubra-se primeiro como o maior deles, receba o Sagrado Coração, imite-O e dê ao outro o que lhe foi dado: o próprio Deus!

Catarina Xavier
Missionária da Comunidade Canção Nova

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