DIA DO SENHOR

Amar é dar prioridade! Dar a Deus o que é de Deus

A importância de dedicar-se ao Senhor

Quero começar este texto com a famosa passagem do Evangelho (encontrada nos 3 Evangelhos sinóticos) onde Jesus é confrontado por algumas autoridades de sua época a respeito do dever civil imposto pelo império romano que consistia em pagar impostos: “Pois bem, devolvei a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus” ( Lc 20,25) . Penso que, de alguma forma, grande parte dos brasileiros já ouviram ou leram esta frase.

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Nós que fazemos parte da Igreja Católica, muitas vezes, associamos esta frase ao dízimo ou a alguma contribuição pessoal à Igreja. Porém, existe também uma outra verdade nesta frase, que é a de dar-se a Deus, porque a Ele nós pertencemos. Retribuir ao Senhor o amor d’Ele recebido. Para isso precisamos estar em comunhão com Ele, precisamos dar ao Senhor prioridade. Entender melhor que, quando estamos com Ele, nos encontramos com Alguém, vivemos um grande encontro, um encontro baseado no amor, e não na regra.

“No domingo e nos outros dias festivos de preceito, os fiéis […] abstenham-se daqueles trabalhos e negócios que impeçam o culto a prestar a Deus, a alegria própria do dia do Senhor ou o devido descanso do espírito e do corpo.” | Foto ilustrativa: cancaonova.com

Na sociedade em que vivemos atualmente, somos bombardeados por informações a todo momento, estamos conectados às pessoas, às instituições e a tantas outras realidades que, no nosso cotidiano, só paramos na hora de dormir e em alguns casos, isso significa pouquíssimas horas por dia devido à vida acelerada e cheia de preocupações. Neste ritmo intenso, somos exigidos a corresponder e a estar “por dentro” de tudo, mas isso é prejudicial à saúde física, mental e principalmente espiritual. Prova disso é que, muitas vezes, encontramos enormes dificuldade para nos concentrarmos no nosso momento de oração pessoal, na adoração silenciosa ao Santíssimo Sacramento, na Santa Missa etc. Parece que o tempo não passa, ficamos entediados e, em alguns casos, irritados.

No livro do Gênesis, no início do capítulo 2, encontramos a parte final do relato da criação. O versículo dois é categórico em afirmar que: Tendo Deus terminado no sétimo dia a obra que tinha feito, descansou do seu trabalho. Este dia é chamado em hebraico de Shabat (Sabá) que pode ser traduzido como “parar”, “cessação” ou, como usamos normalmente, “dia do repouso”. Não vejo a necessidade de explicar que Deus, como ser Perfeito e Divino, não necessita de descanso. O que o autor bíblico quer enfatizar é a necessidade da criação, de nós, seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus, priorizarmos um dia ao nosso Criador e a Sua obra. No relato da criação, nós encontramos a chave para entendermos o sentido desta “parada”, deste “mudar o ritmo”.

Por isso, Deus, em Sua infinita sabedoria, concede ao ser humano um mandamento no qual ele deve guardar o sétimo dia, ou seja, fazer o seu Shabat. Gosto sempre de, em minhas homilias, brincar com a palavra “guardar”. Sempre digo que o “guardar” bíblico não é para colocar no fundo de uma gaveta, de deixar lá bem guardadinho, escondido, em segurança. Não! O guardar aqui é observar, é reservar-se, é dar-se totalmente em atenção ao outro, é dar prioridade.

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A Igreja católica sempre se preocupou com essa necessidade que o homem possui de não se esquecer de seu Criador, de permanecer um tempo com Ele de modo que possa dar qualidade e aumentar ainda mais essa comunhão.

O parágrafo 2193 do Catecismo da Igreja Católica nos exorta a:

No domingo e nos outros dias festivos de preceito, os fiéis […] abstenham-se daqueles trabalhos e negócios que impeçam o culto a prestar a Deus, a alegria própria do dia do Senhor ou o devido descanso do espírito e do corpo.

O Catecismo continua no parágrafo seguinte:

A instituição do domingo contribui para que “todos gozem do tempo suficiente de repouso e lazer, que lhes permita atender vida familiar, cultural, social e religiosa”. (CIC 2194)

Para colocar em prática o que o Catecismo pede, é necessário deixarmos de lado as preocupações próprias que o ritmo da vida semanal nos impõe, deixar o trabalho e outras atividades que nos impedem de entrar em plena comunhão com Deus.

Realizar isso exige um determinado esforço. Muitas vezes, esse esforço é visto de forma negativa, como se o culto a Deus estivesse roubando o “pouco” tempo que se tem para “aproveitar” no final de semana. Na verdade, o “parar”, com o objetivo de render culto a Deus, nada mais é que um gesto de amor, uma retribuição ao amor que recebemos d’Ele. E quem ama sempre será capaz de dar prioridade ao amado. Não é negativo, pesado etc., é amor, e o amor não tem medida.

Convido você a fazer a experiência que São Pedro Julião Eymard vivia antes de ir para seu momento de oração. Ele vivia como um grande encontro com o Amado de sua vida, ele ia se provocando, deixando-me ser consumido pelo futuro encontro, ele contava as horas dizendo: Daqui quatro horas… daqui duas horas… em uma hora eu terei um encontro de graça e de amor com Nosso Senhor: Ele me convidou, Ele me espera e Ele me deseja.

Termino com o versículo bíblico que usei no começo do texto, desejando que você possa entender que a prioridade dada ao Senhor, sobretudo no domingo, dia em que a Igreja nos pede para reservarmos um tempo a Ele, não seja outra coisa que: dar a Deus o que é de Deus, pois como nos ensina São João: Deus é Amor.

Deus abençoe!

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