COMO VENCÊ-LA?

Tibieza, um vício que mata a vida de Deus em nós

“Conheço as tuas obras. Não és frio, nem quente. Oxalá fosses frio ou quente! Mas, porque és morno, nem frio nem quente, estou para vomitar-te de minha boca” (Ap 3,15-16)

Na relação com Deus, trilha-se um longo caminho de conversão e mudança. Ao longo desse processo, há diversas etapas: momentos de decisivas rupturas, principalmente quanto aos pecados mortais; avanço na vida de oração; acompanhamento espiritual; práticas de piedade; contínuas revisões de vida; práticas penitenciais que auxiliam no processo de purificação como o jejum entre outras. Paralelamente a cada uma dessas etapas, segue-se uma longa e contínua luta: o combate aos pecados veniais e aos vícios. Aqui, entende-se por vícios aqueles pecados que estão associados diretamente com os pecados capitais (a soberba, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula e a preguiça).

:: Aprender a ouvir a Palavra de Deus

Há duas certezas no caminho de conversão: quando decidimos por uma vida santa, entramos em uma grande batalha, mas a maior certeza é a de que Deus nos concede todos os auxílios necessários para vencermos com Ele. No começo da conversão, a experiência com Deus é algo muito sensível, muito vivo, e a experiência com o Seu amor é o que move a buscar uma radicalidade na conversão. Os anos passam, as lutas permanecem e corre-se o risco de negligenciar em alguns pontos. E é aqui que quero destacar neste texto.

“A tibieza leva a alma a uma zona de risco: tende-se a cair mais facilmente no pecado. O tíbio ainda não se entregou totalmente à vida de pecado novamente.” | Foto Ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

O Padre Adolphe Tanquerey, no “Compêndio de Teologia Ascética e Mística” descreve:

“Se não se reage contra os defeitos que acabamos de assinalar, não se tarda em cair na tibieza, doença espiritual perigosíssima”

Em que consiste a tibieza?

A tibieza está associada ao pecado capital da preguiça, mas qualifica-se como uma preguiça espiritual. Diz de um relaxamento espiritual quanto ao fervor e às práticas piedosas que eram vividas. Quando se deixa ser tomado pela tibieza, vive-se em um afrouxamento da vida cristã, regredindo no caminho espiritual, tornando-se suscetível aos pecados e distanciando-se de Deus. O Catecismo da Igreja Católica (CIC 2094) diz que a tibieza é a “negligência em corresponder ao amor divino, pode implicar a recusa de se entregar ao movimento da caridade”.

Este movimento da caridade diz da iniciativa que parte de Deus em nos atrair a Ele, do investimento de Deus em nos auxiliar no caminho da conversão e no movimento da Providência que nos concede os meios que necessitamos para entrarmos em uma profunda união com Ele. Esse movimento do amor de Deus não cessa, é interminável, porque é desejo de Deus nos atrair para Ele, por meio de uma vida santa. Como foi citado anteriormente, no começo da conversão, nós estamos mais abertos e sensíveis a este amor de Deus por nós. Quando a luta contra o pecado, a busca pela virtude, o desejo da vida de oração começam a enfraquecer-se, cria-se uma barreira ao amor de Deus, deixando de corresponder e torna-se tíbio.

São João da Cruz diz: “Quem opera com tibieza está próximo da queda”. A tibieza leva a alma a uma zona de risco: tende-se a cair mais facilmente no pecado. O tíbio ainda não se entregou totalmente à vida de pecado novamente. No livro do Apocalipse (conforme a passagem citada no começo do texto), fala dos mornos. Os quentes são os fervorosos, desejosos pela santidade, firmados na vida espiritual; os frios são aqueles que se entregam aos pecados, não buscam a Deus e contentam-se com uma vida longe d’Ele; e os mornos estão indecisos: não se entregaram nem inteiramente a Deus, nem se distanciaram por inteiro, mas caminham à beira de um precipício, podendo cair a qualquer instante.

Leia também:
:: Dicas para ser um bom pregador da Palavra de Deus
:: A Misericórdia do Pai
:: A Visitação de Nossa Senhora

Podemos falar em dois graus de tibieza: a tibieza começada, que se direciona a cair nos pecados veniais deliberados; a tibieza consumada, que se inclina até para os pecados mortais. A tibieza cria uma cegueira na consciência, tornando uma consciência relaxada, que não reconhece mais as faltas cometidas, enfraquecendo a vontade de corresponder ao movimento do amor de Deus.

E agora? Como vencer a tibieza?

Faço questão de trazer uma frase já citada no começo deste artigo:
“Há duas certezas no nosso caminho de conversão: quando decidimos por uma vida santa, entramos em uma grande batalha, mas a maior certeza é a de que Deus nos concede todos os auxílios necessários para vencermos com Ele”.

Deus não nos deixa desamparados, e se a tibieza é uma doença espiritual, Ele nos dá o remédio necessário. Em primeiro lugar, é preciso buscar ajuda: só um bom confessor e diretor espiritual conseguirá olhar para a situação e encontrar os meios para sair deste estado de mornidão. É uma luta que não se vence sozinho. Em segundo lugar, voltar às práticas fervorosas, buscando corresponder a Deus e ao Seu amor que vem ao nosso encontro. Consequentemente, é preciso voltar a buscar uma vida regrada pelas virtudes.

E é claro, não poderia deixar de mencionar um grande aliado, remédio e antídoto contra a tibieza: o Batismo no Espírito Santo. Conhecemos os efeitos do Batismo no Espírito em nossa vida, do fervor que se atualiza constantemente, o desejo de santidade e o desejo da busca por Deus. Sendo assim, nós precisamos pedir, a cada dia, uma atualização do agir do Espírito Santo em nossa vida, para mantermos vivo em nós este fervor. Quem tem atualizado e vivo o Batismo Espírito Santo não cede à tibieza, mas distancia-se dela. Que Deus nos dê a graça de uma vida fervorosa, buscando-O continuamente, correspondendo ao Seu amor e não cedendo ao risco da tibieza. Se você percebe a necessidade de uma grande retomada, não perca tempo. Dê passos e saia da mornidão. Busque a ajuda necessária e volte a firmar-se no caminho do Senhor!

 

Deixe seu comentários

Comentário