A ADORAÇÃO EUCARÍSTICA

O Amor infinito e misericordioso de Deus

A Comunidade Canção Nova é também conhecida como Comunidade de Amor e Adoração. E nestes tempos de pandemia, pelas ondas da Rádio, pelo sinal de TV e internet levamos muitos a se encontrarem com Jesus Eucarístico na eficácia do Espírito Santo. É uma graça muito grande que Deus nos concedeu. Por meio deste breve artigo queremos mergulhar um pouco mais sobre o que é ser um adorador. Assim como diz a Sagrada Escritura: “Mas vem a hora, e já chegou, em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses adoradores que o Pai deseja” (João 4, 23). Ademais, Monsenhor Jonas Abib citou Santa Teresa do Menino Jesus, Doutora da Igreja, na obra Eucaristia, nosso tesouro:

Não é para ficar numa âmbula de ouro que Jesus desce a cada dia do céu, mas para encontrar um outro céu na nossa alma, onde ele encontra suas delícias”, e continua: “quando o demônio não pode entrar com o pecado no santuário de uma alma, quer pelo menos que ela fique vazia, sem dono, afastada da comunhão”. A própria Santa Teresinha experimentou esta tentação e assim expressou: “Ele (o demônio) quer que ela (nossa alma) fique vazia, afastada da comunhão!
(apud ABIB, 2009, p. 13). 

O Papa Francisco, em 06 de janeiro de 2021, em sua homilia na Solenidade da Epifania, com muita simplicidade nos disse que o evangelista Mateus assinala que os Magos, quando chegaram a Belém, “viram o Menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, adoraram-No” (Mateus 2, 11)Adorar o Senhor não é fácil, não é um dado imediato: requer uma certa maturidade espiritual, sendo o ponto de chegada dum caminho interior, por vezes longo. Não é espontânea em nós a atitude de adorar a Deus. É verdade que o ser humano precisa de adorar, mas corre o risco de errar o alvo; com efeito, se não adorar a Deus, adorará ídolos – não existe meio termo, ou Deus ou os ídolos, ou para usar uma palavra de um escritor francês: “Quem não adora a Deus, adora o diabo” – e, em vez de ser crente, tornar-se-á idólatra. Diante de palavras tão acertadas é necessário “levantar os olhos”, “por-se a caminho” e “ver”.

Este foi o centro de sua homilia. Quando o Sumo Pontífice nos diz “levantar os olhos” significa que «Levanta os olhos e vê» (Isaías 60, 4). O Papa está nos convidando a deixar de lado cansaço e lamentos, sair das estreitezas duma visão limitada, libertar-se da ditadura do próprio eu, sempre propenso a fechar-se em si mesmo e nas preocupações particulares. Para adorar o Senhor, é preciso antes de mais nada “levantar os olhos”, ou seja, não se deixar enredar pelos fantasmas interiores que apagam a esperança, nem fazer dos problemas e dificuldades o centro da própria existência. Este olhar que, apesar das vicissitudes da vida, permanece confiante no Senhor, gera a gratidão filial. E, quando isto acontece, o coração abre-se à adoração

A segunda expressão “por-se a caminho” é antes de poder adorar o Menino nascido em Belém, os Magos tiveram que enfrentar uma longa viagem. Lê-se em Mateus: «Chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente. E perguntaram: “Onde está o Rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-Lo”» (Mt 2, 1-2). A viagem implica sempre uma transformação, uma mudança. A pessoa, depois duma viagem, já não fica como antes; há sempre algo de novo em quem viajou: os seus conhecimentos alargaram-se, viu pessoas e coisas novas, sentiu fortalecer-se a vontade ao enfrentar as dificuldades e os riscos do trajeto. Não se chega a adorar o Senhor sem antes passar pelo amadurecimento interior que nos dá o pôr-se a caminho.

E a terceira expressão: Para adorar o Senhor, é preciso «ver» além do véu do visível, pois este muitas vezes mostra-se enganador. Hoje a maioria de nós, imersos nesta sociedade consumista e descartável, não temos mais a sensibilidade de ver além do véu das aparências. O Senhor está na humildade, o Senhor é como aquele menino humilde, foge da ostentação, que é precisamente o produto do mundanismo. Esta forma de «ver» que transcende o visível, faz-nos adorar o Senhor muitas vezes escondido em situações simples, em pessoas humildes e marginais. Trata-se, pois, dum olhar que, não se deixando encandear pelos fogos de artifício do exibicionismo, procura em cada ocasião aquilo que não passa, procura o Senhor. Por isso, como escreve o apóstolo Paulo, «não olhamos para as coisas visíveis, mas para as invisíveis, porque as visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas» (2 Coríntios 4, 18).

Aprofundando um pouco mais diante da Hóstia sagrada, na qual Jesus para nós se fez pão que do interior ampara e alimenta a nossa vida (cf. João 6, 35), nós encontramos uma palavra em grego: proskynesis”. Que Bento XVI explicou muito bem aos jovens na XX Jornada Mundial da Juventude (Colónia, Esplanada de Marienfeld – Alemanha): 

Ela significa o gesto da submissão, o reconhecimento de Deus como a nossa verdadeira medida, cuja norma aceitamos seguir. Significa que liberdade não quer dizer gozar a vida, considerar-se absolutamente autónomos, mas orientar-se segundo a medida da verdade e do bem, para, desta forma, nos tornarmos nós próprios verdadeiros e bons. Este gesto é necessário, mesmo se a nossa ambição de liberdade num primeiro momento resiste a esta perspectiva. Fazê-la completamente nossa só será possível na segunda passagem que a Última Ceia nos apresenta. A palavra latina para adoração é ad-oratio contato boca a boca, beijo, abraço e, por conseguinte, fundamentalmente amor. A submissão torna-se união, porque Aquele ao qual nos submetemos é Amor. Assim, submissão adquire um sentido, porque não nos impõe coisas alheias, mas liberta-nos em função da verdade mais íntima do nosso ser. (BENTO XVI, 2005).

Acrescenta o Papa emérito que “uma vez que há um só pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo” diz São Paulo (1 Cor 10, 17). Com isto pretende dizer: porque recebemos o mesmo Senhor e Ele nos acolhe e nos atrai para dentro de si, somos uma só coisa também entre nós. Isto deve manifestar-se na vida. Deve mostrar-se na capacidade do perdão. Deve manifestar-se na sensibilidade pelas necessidades do próximo. Deve manifestar-se na disponibilidade para partilhar. Deve manifestar-se no compromisso pelo próximo, tanto pelo que está perto como pelo que está externamente distante, mas que nos diz sempre respeito de perto. Vê-se que a verdadeira adoração a Jesus nos coloca a serviço do próximo e também, depois de infundir em nós as graças, o próprio Deus faz-nos células curadas em uma sociedade doente.

Feliz quem teme o Senhor! (Salmo 112,1).
O princípio da sabedoria é o temor do Senhor (Salmo 111,10).
Vinde, filhos, escutai-me, eu vos ensinarei o temor do Senhor (Salmo 34,12).

Adoração Eucarística/Foto: Bruno Marques

Os Santos nos ensinam muito sobre a adoração e sobre estar na presença de Deus a todo o momento. O primeiro ensinamento que devemos nos abastecer da fonte destes grandes homens e mulheres que chegaram a uma alta união com Deus é que devemos progredir no Santo Temor de Deus. Comecemos pelo Doutor Angélico, São Tomás de Aquino, que diz que “nós tememos perder o que amamos” (Suma Teológica, II-II, q. 19. a.8). 

O que isso significa? No século IV, Santo Hilário, bispo de Poitiers, quando se preparava para comentar os salmos ao povo. De modo especial ficava perplexo com aquela exortação do salmo 34: Vinde…, eu vos ensinarei o temor do Senhor. Dizia Santo Hilário sobre o Temor a Deus: “Não é objeto de ensino, mas surge da nossa fraqueza natural; não aprendemos o que se deve temer, mas são as próprias coisas temíveis que nos incutem o seu temor”. Pelo contrário, o temor de Deus não é uma reação natural, espontânea; tem que ser ensinado e aprendido. “Não provém do nosso receio natural, mas do conhecimento da verdade. Para nós, todo o temor de Deus vem do amor” (apud FAUS, 2018). 

Quando experimentamos a Graça de Deus, a sua iluminação que penetra nossa inteligência e move a nossa vontade, somos todos atraídos para Deus e consequentemente para a Adoração ao Santíssimo Sacramento e aos outros Sacramentos. De fato, como ensinava São Josemaría Escrivá Balaguer: “Não esqueças, meu filho, que para ti, na terra, só há um mal que deverás temer e evitar com a graça divina: o pecado” (Caminho, n. 386). E Aqui entramos em uma outra dimensão um pouco mais profunda do Amor a Deus, que é o assombro diante da grandeza do Senhor Jesus e a nossa pequenez. Deus é puríssimo, bondosíssimo.. Todos os seus atributos estão no superlativo, porque Deus é tudo. E quando nossa alma se dá conta em algum momento desta grande verdade, nossa vida começa a mudar radicalmente. E começamos a evitar, por meio da iluminação da nossa inteligência, o mal e buscamos o bem e a união a Deus. Nossa vontade entra num processo de purificação muito maior. Para exemplificar podemos nos colocar no papel dos reis magos, que não conheciam a Deus, mas, quando viram a manifestação do Anjo do Senhor, ou seja, não só viram, como sentiram a presença sobrenatural da Glória de Deus expressa naquela criatura angélica, eles tremiam. O Anjo então lhes disse: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria… (Lucas 2,9-10). A adoração proporciona intimidade, saltos de intimidade cada vez maiores. Se a adoração a Deus, de verdade, acontecer todos os dias, o fervor da nossa alma crescerá! Nos sermões do Padre Newman, futuro Cardeal, ele dizia sobre estes sentimentos que nos surgem por causa do Santo Temor:

São os sentimentos que teríamos, e em grau intenso, se tivéssemos a visão do Deus soberano. São os sentimentos que teríamos se verificássemos a sua presença. Na medida em que acreditamos que ele está presente, devemos tê-los. Não os ter é não acreditar que Deus está presente (Cardeal Newman, Parochial and plain sermons, 5,2, pág. 21-22). 

Verdadeiramente, o adorador, vai vivendo situações do seu dia-a-dia e sente que necessita de mais adoração. Sua alma tem sede como Santa Maria Madalena que correu para o sepulcro, em busca do Mestre e Senhor, Jesus Cristo. Uma mulher que viveu o desapego das criaturas, nada mais era importante, somente Jesus era a essencial da sua vida. Ela O desejava com todo o seu coração, porque Jesus preencheu o seu coração com o Amor. E nenhum homem deste mundo pode dar o Amor que Deus nos dá. Só Ele tem o poder de preencher o nosso coração com esse Amor Divino e nos fazer amar Ele, com este mesmo Amor Divino. Eis uma grande dádiva dos céus que temos: Amar a Deus com o Amor Divino que recebemos dEle mesmo.

 

“Caríssimos, nós somos agora filhos de Deus… Aquele que não ama não conheceu a Deus, porque Deus é Amor… Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou e nos enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados… No amor não há temor; ao contrário, o perfeito amor lança fora o temor (1 João 3,2; 4,8.10.18).

Nestes versículos está contido o segredo do Reino que tocava e impelia os apóstolos e nós, que somos os novos discípulos de Jesus: o Amor. Só este amor pode nos fazer enfrentar o mundo, o demônio e nós mesmos… Nadando contra esta grande correnteza de individualismo, hipocrisia, mentira, falsidades, corrupções, insensibilidade, pecados, vícios. Só este amor que é derramado em cada adoração ao Santíssimo Sacramento pode nos fazer mais humanos, mais de Deus, cidadãos da Cidade de Deus. Esse amor que encheu o coração dos Santos, se derrama em nós por Graça e Misericórdia!

Foto ilustrativa: Santa Maria Madalena

A alma de fé é aquela que diz, com são João, nós conhecemos o amor de Deus e acreditamos nele. (1Jo 4,16). Sabe que “Deus é um pai amoroso: quer mais a cada um de nós do que todas as mães do mundo podem querer a seus filhos” (Cf. Caminho, n. 267). E dói-lhe muito ofendê-lo. É a única coisa que “teme” de verdade. Quando temos esse temor filial, o coração não fica encolhido pelo medo; ao contrário, se dilata, aberto totalmente à gratidão e à confiança em nosso Pai Deus: Não tenhas medo, pequeno rebanho  – diz-nos Jesus –, porque foi do agrado do vosso Pai dar-vos o Reino (Lc 12,32). (FAUS, 2018).

Terminemos com aquilo que diz o nosso Catecismo da Igreja Católica, um tesouro inestimável para os nossos tempos:

“Adorar a Deus – lembra o Catecismo – é reconhecê-lo como Deus, como o Criador e o Salvador, o Senhor e o Mestre de tudo o que existe, o Amor infinito e misericordioso” (n. 2096).

Imagine quantas vezes Jesus sorriu para você durante seus horários de adoração. Deixe que esse júbilo, esse grande amor cresça em você! Se torne um adorador, seja diariamente um adorador de Jesus Eucarístico. Seja incansável e fiel aos Sacramentos, porque eles nos antecipam o céu! Que alegria, a paz, o amor do Ressuscitado através dos raios eucarísticos penetre nos seus poros  e te cure e liberte de tudo aquilo que não é de Deus! “Jesus Cristo…, sem o terdes visto, vós o amais; sem o ver ainda crestes nele e isso é para vós fonte de uma alegria inefável e gloriosa (1 Pedro 1,8). Seja como Nossa Senhora meditando as Verdades Eternas em seu coração e permanecendo mesmo na dor suprema da morte, da Cruz, cheia de esperança! Deixe Deus ser Deus em sua vida!

A minha alma engrandece o Senhor, e o meu espírito exulta de alegria, em Deus, meu Salvador, porque olhou para a pequenez da sua serva. Eis que, desde agora, todas as gerações me proclamarão feliz, porque realizou em mim coisas grandes aquele que é poderoso e cujo nome é santo (Lucas 1, 46-49).

 

Guilherme Razuk
Seminarista Comunidade Canção Nova

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