GRAÇA

A confissão: Lugar de encontro com a Misericórdia do Pai

Antes de começar a ler este artigo, eu gostaria de explicar que não se trata de um artigo/aula onde eu vou explicar o conceito teológico do sacramento da confissão. Para isso, convido você a fazer uma busca rápida no site do santuário ou no cancanova.com, e você encontrará vários artigos neste aspecto. Outro conselho é ler o Catecismo da Igreja Católica do parágrafo 1422 ao 1495.

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Neste texto, eu quero falar a você de um encontro com alguém que é a única pessoa capaz de nos presentear com uma misericórdia infinita através da graça do sacramento da confissão. Toda confissão implica uma liberdade, para que seja válida e bem sucedida. Quanto mais livres nós nos colocamos diante do sacerdote, mais nossa confissão será um momento de graça para nós. O poder, a graça do sacramento age por si só, mas, aqui, eu falo no aspecto humano, falo daquele que recebe a graça. Uma confissão, por obrigação de fazê-la mensalmente, para cumprir uma devoção ou uma espécie de voto íntimo, nunca terá o mesmo efeito na pessoa que busca o sacerdote da Igreja com um sentimento de profunda contrição.

“Toda confissão implica uma liberdade para que seja válida e bem sucedida.” | Foto Ilustrativa: DawidMarkiewicz by Getty Images

O Catecismo da Igreja Católica nos explica que a contrição é a dor da alma e uma detestação do pecado cometido, com o propósito de não mais pecar no futuro. Quando esta dor é fruto do amor que a pessoa sente por Deus, ela é chamada perfeita. É justamente neste momento que damos abertura para fazer um encontro com a misericórdia do Pai.

O Evangelho de São Lucas, no capítulo 15, conhecido como o capítulo da misericórdia devido às três parábolas deste capítulo, na parábola sobre o filho pródigo (Lc 15,11-32), o evangelista mostra o amor misericordioso do pai que recebe o filho arrependido que voltou para casa. Porém, o filho volta para casa do pai não porque sente falta do amor deste, ele retorna para casa porque estava passando por necessidades. Sua ação é fruto de um remorso pessoal. A pessoa se entristece por ter feito uma má escolha, ou seja, a questão ainda gira em torno dela, o ato continua sendo egoísta, pois não se abre à ferida provocada no outro. Acho que ficou claro de perceber a diferença entre as duas formas de se arrepender. Somos chamados a participar da confissão por nos arrependermos de ter “ofendido” o amor de Deus.

Ao olharmos mais a fundo na parábola do filho pródigo, percebemos que o arrependimento, independente de qual tenha sido, foi capaz de gerar o encontro do filho com o pai. Assim é a confissão: a partir de um arrependimento, somos convidados a encontrar Alguém e receber o que Ele tem para nos oferecer.

Quando vamos a um encontro pela primeira vez, nossa tendência é ter medo, ficar receoso com o que irá acontecer. Tentamos, com a nossa mente, adiantar as etapas deste encontro: a chegada, o desenrolar, o fim e o após. Sei que essa tentativa de antecipar a ação não impede o receio e o medo, principalmente quando o motivo deste encontro é algo de errado que foi feito. Com o Pai das Misericórdias não existe a necessidade deste medo ou receio. Ele é Amor, e Ele nos espera de braços abertos como o pai da parábola. Precisamos apenas ir ao seu encontro e confessar os erros cometidos.
Ok!

Tomei a decisão de ir a este encontro, fui acolhido por uma misericórdia à qual eu não esperava. Mas o que fazer agora? O desafio, agora, é receber gratuitamente este amor altruísta que se manifesta na ação misericordiosa do Pai. Por conta do orgulho que trazemos em nós, tentaremos reparar os erros feitos, não como uma satisfação (penitência dada pelo padre) necessária para completar as etapas do sacramento, mas como uma forma de se tornar digno da misericórdia do Pai. Caso isso ocorra, mais uma vez estaremos tentando ser os agentes da situação e não alguém que recebe uma graça. Esta maneira de pensar é uma forma de pelagianismo, como nos ensina o Papa Francisco no número 48 da exortação apostólica Gaudete et Exultate:

Com efeito, o poder que os gnósticos atribuíam à inteligência, alguns começaram a atribuí-lo à vontade humana, ao esforço pessoal. Surgiram, assim, os pelagianos e os semipelagianos. Já não era a inteligência que ocupava o lugar do mistério e da graça, mas a vontade. Esquecia-se que “isto não depende daquele que quer nem daquele que se esforça por alcançá-lo, mas de Deus que é misericordioso” (Rm 9, 16) e que Ele “nos amou primeiro” (1 Jo 4, 19).

Após ir ao encontro e receber a misericórdia que o Pai tem a nos dar, falta a última etapa final do encontro, despedir-se e voltar à vida após tê-lo encontrado. A partir deste momento, seremos tentados a esquecer a graça que vivenciamos, a misericórdia e o amor recebido. Podemos nos esquecer até mesmo d’Aquele com quem nos encontramos. Aqui se faz necessário o caminho da maturidade espiritual, crescer nesta relação com o Pai das Misericórdias. Ele estará sempre à nossa disposição para um novo encontro.

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Por fim, podemos cair na tentação de achar que este caminho de ida e volta é fácil a ser percorrido, e não dar o devido valor ao sacramento recebido. Aqui, encontramos um erro clássico. A verdade é que se nos acomodarmos e não dermos o devido valor ao sacramento da confissão, com o passar do tempo, passaremos a deixar a vivência deste sacramento para depois e depois, até chegar em um ponto no qual nem lembramos mais direito dos pecados cometidos, chegando a questionar a necessidade do sacramento. Não podemos cair nesta tentação.

Em um primeiro momento, este encontro pode ser desconfortável, mas, como em qualquer relação, com o passar do tempo aprendemos a amar o outro e vamos nos afeiçoando mais e mais com ele. O Pai das Misericórdias espera por você! Não tenha medo de encontrá-lo.

Deus o abençoe!

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