A Igreja, em todo o Ano Litúrgico, proporciona aos fiéis um caminho de encontro com Deus e com o sentido da nossa vida. Uma graça que precisa ser acolhida livremente por cada um.
Toda esta riqueza de vida é oferecida e não imposta a cada homem e cada mulher. Deus nos criou com o maravilhoso e desafiador presente da liberdade! Podemos dizer, de forma muito humana, que ele se arriscou ao nos fazer até capazes de recusá-lo! Que não nos permitamos dizer não ao seu amor é o desejo sincero de nosso coração, mas resta esta possibilidade em nosso horizonte pessoal. E sabemos muito bem o quanto a humanidade tantas vezes escolhe o caminho do egoísmo, do relativismo e do individualismo. Para desfrutar plenamente as riquezas espirituais que a Igreja nos oferece, é bom tomar consciência de que somos chamados a escolher o melhor, e não qualquer caminho!
Ao chamar e formar seus discípulos, Jesus lhes faz perguntas exigentes, inclusive quando deseja saber o que as pessoas pensam a seu respeito, como numa pesquisa de opinião (Lc 9,18-24), para chegar à pergunta fundamental: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Foi-lhes pedida a maturidade das opções. E conhecemos quanto trabalho eles deram a Jesus, começando pelo próprio Simão Pedro, espontâneo nas respostas, mas frágil na perseverança, até que o Dom do Espírito Santo o fortaleceu.
Quando amadurecemos humanamente, as escolhas a serem feitas exigem renúncias. Ninguém pode ser proprietário de todos os bens existentes no mundo, como ninguém pode concentrar todas as profissões disponíveis. Os chamados testes vocacionais contribuem para identificar tendências e capacidades, que nós cristãos chamamos de dons, com os quais podemos nos realizar como pessoas e ajudar o mundo a ser melhor. Renunciamos primeiro àquilo que não é bom, renunciamos ao pecado, à maldade, àquilo que desune, renunciamos a Satanás, a todas as suas obras e seduções, como expressamos no Batismo. Em nosso coração existe uma reserva de bondade e a voz da consciência, com a qual o Espírito Santo mostra a estrada justa.
Depois, há que renunciar a muitas coisas que não nos são convenientes. “A mim tudo é permitido, mas nem tudo me convém. A mim tudo é permitido, mas não me deixarei dominar por coisa alguma” (I Cor 6,12). Sensata recomendação de São Paulo, pois as escolhas adequadas dependem do estado de vida da pessoa e de suas condições pessoais, entre as quais a saúde e outros condicionamentos.
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E chegamos à exigente proposta do Evangelho: “Jesus começou a dizer a todos: “Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a salvará” (Lc 9,18-24). É necessário renunciar a si mesmo para seguir a Jesus. E sabemos que ele fez uma promessa: “Todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos, por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá como herança a vida eterna” (Mt 19, 27-29). Mais cedo ou mais tarde, nem que seja na última hora, é necessário escolher Deus, que passa na frente de tudo, a vida, os bens, a saúde, as amizades, a fama, tudo! É escolher o bem maior, com a coragem para relativizar todo o resto!
E Jesus pede mais a todos os seus discípulos! É necessário abraçar a Cruz cada dia. Não se trata de gostar do sofrimento ou da dor, pois só se torna Cruz o que é abraçado com amor. É transformar cada ato humano em Cruz, isto é, em amor a Deus e ao próximo. E podemos ficar pasmados! Este abraço à Cruz é fonte de realização e alegria. Não somos homens e mulheres de lamentações, mas de escolhas firmes e geradoras de alegria e felicidade!
Tendo renunciado e abraçado a Cruz, podemos seguir Jesus por toda a vida, com todos os bens que caracterizam o Reino de Deus. O seguimento do Senhor nos fará escolher a Comunhão, como vivemos na Festa da Trindade! Vai conduzir-nos à Eucaristia, sem a qual não podemos viver. Vai levar-nos a ser mais humanos, pois o Coração de Cristo é o que existe de melhor na humanidade!
Para segui-lo contamos com a graça prometida pela ação permanente do Espírito Santo. E poderemos buscar a cada dia agir como Jesus agiria em nosso lugar, uma apaixonante proposta de São Carlos de Foucauld, recentemente canonizado.
DOM ALBERTO TAVEIRA CORRÊA
Arcebispo Metropolitano de Belém do Pará