Cruz! Palavra pequena, mas densa em sentido. Ninguém a deseja à porta; poucos ainda se atrevem a falar dela; alguns querem negá-la por completo. Mais do que nunca, celebrar a Exaltação da Santa Cruz se tornou necessário no mundo de hoje. Não sabemos mais sofrer, nem conferimos o sentido que as dores da vida podem adquirir para que se tornem oferta de amor e sacrifício de louvor.
São João Paulo II, em sua encíclica Salvici Doloris, escreveu: “o sofrimento parece pertencer à transcendência do homem; é um daqueles pontos em que o homem está, em certo sentido, destinado a superar-se a si mesmo; e é chamado de modo misterioso a fazê-lo” (SD, 2).
Há apenas uma forma de entrar na lógica do sofrimento; há apenas um lugar de encontro entre a dor do homem e a do Deus feito homem: o que hoje celebramos em grau de exaltação: a Cruz! Somente fitando o lenho de onde nos pendeu a salvação se pode adequar-se ao verdadeiro sentido do sofrimento.
Cristo não era culpado dos crimes que o levaram à morte. Foi suspenso sem recair sobre qualquer peso pessoal de culpa. Assim, nos ensina que não é verdade que todo sofrimento seja um castigo por nossos erros e pecados. Em Jesus Crucificado, o sofrimento apresenta o profundo valor de entrega e salvífico.
Podemos fazer de nossos sofrimentos um encontro com o Cristo. Como fala São Paulo, completar em si mesmo, na própria carne “o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja” (Cl 1,24). A dor é caminho de salvação! É um desfragmentar-se de si, para que o Cristo seja refeito em nós!
Por isso, hoje, celebramos a exaltação da Santa Cruz! “Por ela as trevas são repelidas e volta à luz (…) somos levados para o alto para que, abandonando a terra com o pecado, obtenhamos os céus. Se não houvesse a cruz, Cristo não seria crucificado. Se não houvesse a cruz, a vida não seria pregada ao lenho com cravos. Se a vida não tivesse sido cravada, não brotariam do lado as fontes da imortalidade, o sangue e a água, que lavam o mundo” (Santo André de Creta). Com isso, a Cruz para nós não tem peso definitivo de morte, mas se tornou nova árvore da vida de onde jorra copiosa redenção.
Solidão, abandono, perseguições, mágoas, remorsos, saudades, morte… São muitas as faces em que a Cruz se revela ao homem. Independente de qual delas visite a sua vida hoje, saiba: é por meio da Cruz que se acessa o mais profundo da misericórdia de Deus; experimentamos a dor, para que sejamos alcançados pela força da ressurreição!
Hoje nos unimos, nos associamos a Ele na Cruz, por meio de nossos sofrimentos, para que um dia, aquele sem ocaso, estejamos plenamente imersos em sua glória. E enfim, “Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas.” (Ap 21, 4). Ó mistério redentor que supera nosso limitado entendimento!
Em louvor a Deus, podemos rezar com a Liturgia das Horas que, em um de seus hinos da Semana Santa, canta:
Salve, salve Cruz santa,
salve, glória do mundo,
verdadeira esperança,
nosso gozo profundo.
Salvação nos perigos,
és da graça o sinal.
Dás a todos a vida,
doce lenho vital.
Santa Cruz adorável,
de onde a vida brotou,
nós, por ti redimidos,
te cantamos louvor.
Doce glória do mundo,
nos teus braços abertos
os escravos do lenho
são, no lenho, libertos.
Honra e glória a Deus Pai
pela Cruz de seu Filho,
que, no lenho elevado,
a vestiu com seu brilho.
Honra e glória ao Espírito,
da Trindade na luz.
E nos céus e na terra
brilhe a glória da Cruz.
George Lima
Seminarista Comunidade Canção Nova
Para saber mais: https://santo.cancaonova.com/santo/exaltacao-da-santa-cruz-simbolo-da-vitoria-de-jesus/
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