PROFESSOR FELIPE AQUINO

Por que um Dia de Todos os Santos

Solenidade de Todos os Santos

Sabemos que os Papas – usando do dogma da infalibilidade quando define uma sentença de fé –  já canonizaram mais de vinte mil santos, que sem cessar intercedem pelo Reino de Deus. Mas há muitos que estão no Céu e que a Igreja não sabe seus nomes, nem mesmo suas histórias. Muitos morreram como mártires anônimos nas perseguições do Império Romano, do nazismo, do comunismo, na guerra civil espanhola (1930) e na mexicana (1926). E muitos estão no Céu sem que tenham sido canonizados oficialmente. Então, para celebrar a santidade de todos eles, a Igreja instituiu esta Solenidade de Todos os Santos.

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“Os santos que reinam agora com Cristo, oram a Deus pelos homens.” | Foto ilustrativa: Wesley Almeida/cancaonova.com

A origem da festa vem do século IV. Em Antioquia, na Síria, celebrava-se uma festa por todos os mártires no primeiro domingo depois de Pentecostes. A celebração foi introduzida em Roma, na mesma data, no século VI, e cem anos depois foi fixada no dia 13 de maio pelo papa Bonifácio IV (619-625), ao mesmo tempo do dia da dedicação do Panteon em Roma, dedicado a Nossa Senhora dos mártires. Foi o Papa Gregório IV quem no ano 835 transferiu esta celebração para 1º de novembro.

A finalidade desta festa litúrgica é a Igreja militante honrar a Igreja triunfante, homenagear a multidão dos santos do céu, que “intercedem por nós sem cessar”, como reza a Igreja. Na primeira leitura da Missa de todos os Santos, lemos: “E vi uma grande multidão, que ninguém podia contar, de todas as gentes e tribos e povos e línguas… que está diante do Cordeiro”.

O que os santos representam para a Igreja e para os católicos?

Antes de tudo, os santos são modelos de vida para nós, pois eles viveram aqui na terra fazendo a vontade de Deus, servindo ao Senhor e aos irmãos. Eles são exemplos de virtudes a serem vividas por nós. E quando prestamos um culto a eles, este culto chega a Deus porque eles se santificaram pela graça de Deus. Sem a graça ninguém chega a santidade.

A Tradição da Igreja está repleta de confirmações sobre a intercessão dos Santos. 

São Jerônimo (340-420), doutor da Igreja, disse: 

Se os Apóstolos e mártires, enquanto estavam em sua carne mortal, e ainda necessitados de cuidar de si, ainda podiam orar pelos outros, muito mais agora que já receberam a coroa de suas vitórias e triunfos. Serão menos poderosos agora que reinam com Cristo? São Paulo diz que com suas orações salvara a vida de 276 homens, que seguiam com ele no navio [naufrágio na ilha de Malta]. E depois de sua morte, cessará sua boca e não pronunciará uma só palavra em favor daqueles que no mundo, por seu intermédio, creram no Evangelho?” (Adv. Vigil. 6)

Santo Hilário de Poitiers (310-367), bispo e doutor da Igreja:

“Aos que fizeram tudo o que tiveram ao seu alcance para permanecer fiéis, não lhes faltará, nem a guarda dos anjos nem a proteção dos santos”.

São Cirilo de Jerusalém (315-386): bispo de Jerusalém e doutor da Igreja, afirmava que:

“Comemoramos os que adormeceram no Senhor antes de nós: Patriarcas, profetas, Apóstolos e mártires; para que Deus, por sua intercessão e orações, se digne receber as nossas”.

O Concílio de Trento (1545-1563) em sua 25ª Sessão, confirmou que:

“Os santos que reinam agora com Cristo, oram a Deus pelos homens. É bom e proveitoso invocá-los suplicantemente e recorrer às suas orações e intercessões, para que vos obtenham benefícios de Deus, por NSJC, único Redentor e Salvador nosso. São ímpios os que negam que se devam invocar os santos que já gozam da eterna felicidade no céu”.

Essa intercessão, e especialmente a de Nossa Senhora –  que é a mais poderosa de todas as intercessões –  não substitui a medição única de Cristo, ao contrário, a reforça, pois, sem a medição única e indispensável de Cristo nenhuma outra intercessão tem valor, já que todas são feitas através de Jesus Cristo

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Por isso, a Igreja não teme invocar os santos e suas preces por nós diante de Deus. Eles pedem por nós oferecendo a Deus seus méritos e preces. É por isso também que a Igreja recomenda que os pais ponham nomes de santos em seus filhos, a fim de que tenham desde pequenos um patrono no céu. 

Segundo essa bela crença, a Igreja deseja que as imagens dos santos sejam veneradas, não idolatradas. O Concílio de Nicéia II, em 787, que condenou o iconoclasmo, heresia que proibia as imagens, declarou solenemente a liceidade de se venerar as sagras imagens. E nunca mais a Igreja reestudou esse assunto, porque ela sabe que quando o Espírito Santo lhe ensina alguma verdade é para sempre. Disse o Concílio:

“Para proferir sucintamente nossa profissão de fé, conservamos todas as tradições da Igreja, escritas ou não-escritas, que nos têm sido transmitidas sem alteração”.

“Na trilha da doutrina divinamente inspirada de nossos santos Padres e da tradição da Igreja católica, que sabemos ser a tradição do Espírito Santo que habita nela, definimos com toda certeza e acerto que as veneráveis e santas imagens, bem como as representações da cruz preciosa e vivificante, sejam elas pintadas, de mosaico ou de qualquer outra matéria apropriada, devem ser colocadas nas santas igrejas de Deus, sobre os utensílios e as vestes sacras, sobre paredes e em quadros, nas casas e nos caminhos, tanto a imagem de Nosso Senhor, Deus e Salvador, Jesus Cristo, como a de Nossa Senhora, a puríssima e santíssima mãe de Deus, dos santos anjos, de todos os santos e dos justos” (DS 600).

  1. João Damasceno (†749), doutor da Igreja, grande defensor das imagens no Concilio de Nicéia II, disse: “O que a Bíblia é para os que sabem ler, a imagem o é para os iletrados” (De imaginibus I 17 PG, 1248c).  “A beleza e a cor das imagens estimula minha oração. É uma festa para os meus olhos, tanto quanto o espetáculo dos campos estimula o meu coração para dar glória a Deus” (Cat, § 1162).

Santa Teresa de Ávila († 1582), doutora da Igreja, ao ensinar as vias da oração às suas Religiosas, dizia:

“Eis um meio que vos poderá ajudar… Cuidai de ter uma imagem ou uma pintura de Nosso Senhor que esteja de acordo com o vosso gosto. Não vos contenteis com trazê-las sobre o vosso coração sem jamais a olhar, mas servi-vos da mesma para vos entreterdes muitas vezes com Ele” (Caminho de Perfeição, cap. 43,1).

Quando louvamos os santos, estamos dando glória a Deus, pois nenhum deles chegou à santidade sem as graças de Deus. Ele é o nosso santificador. Toda glória é dada a Deus.


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